Advogado denuncia atos de tortura a líder de grupo dissidente adventista angolano que está detido

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O advogado do líder da seita angolana “Adventista do Sétmo Dia-Luz do Mundo”, cujos fiéis se envolveram em confrontos mortais com a polícia, disse hoje que este foi “torturado fisicamente” e que continua a ser alvo, na cadeia, de “tortura psicológica”.

A posição foi assumida hoje à Lusa pelo advogado David Mendes, da Associação Mãos Livres, que vai assegurar a defesa do líder desta seita e que durante o dia de quinta-feira, ao fim de várias semanas, conseguiu reunir-se, por duas horas, com Julino Kalupeteka.

“Não se pode manter uma pessoa 45 dias sem contacto com as outras, na área de alta segurança da cadeia [no Huambo], com mais de dez celas, mas onde está sozinho. Isto é uma tortura psicológica. Ele não sabe o que se passa, não tem notícias, não sabe se morreram pessoas ou quantas estão presas”, apontou o advogado.

Kalupeteka, nome pelo qual também é conhecida a seita, está detido preventivamente há mais de um mês e meio, na sequência dos confrontos na Caála, província do Huambo, que levaram à morte, segundo a versão oficial, de nove polícias e 13 fiéis.

“Ele está isolado das outras pessoas, não tem jornas, rádio o ou televisão, está numa situação de desinformação completa. É importante dizer que não foi a polícia que o capturou, foi ele que se apresentou à polícia e ainda hoje tem marcas de tortura. Foi vítima de tortura física e está sendo vítima de tortura psicológica”, afirmou David Mendes.

A Lusa tentou contactar o comando provincial do Huambo da Polícia Nacional, para obter uma reação às denúncias de tortura, mas tal não foi possível até ao momento.

A Associação Mãos Livres, que já escreveu ao secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, pedindo uma investigação independente a este caso, face aos números díspares de mortos nos confrontos entre fiéis e polícia, tentou durante várias semanas assumir formalmente a defesa de Kalupeteka, o que só se concretizou a 20 de maio.

No entanto, até agora, os advogados desta associação ainda não tinham conseguido falar diretamente com o suspeito.

“Deu para ter uma visão das coisas, que não tínhamos antes. Estamos a preparar a defesa e queremos que ele seja de novo inquirido, agora na nossa presença”, disse David Mendes, que vai assegurar a defesa em tribunal do fundador desta seita, conhecida por advogar o fim do mundo em 2015 ou por travar a vacinação e escolarização dos fiéis.

Em causa estão os confrontos de 16 de abril, na Serra Sumé, província do Huambo, entre a polícia, que tentava dar cumprimento a um mandado de captura de Kalupeteka e outros dirigentes daquela seita ilegal em Angola, e alguns fiéis que estavam concentrados no acampamento daquela igreja.

Outras versões, nomeadamente da oposição angolana, apontam para “várias centenas” de mortos entre os seguidores da seita, cujo líder foi detido no dia seguinte, permanecendo desde então em prisão preventiva.

Face à mediatização deste caso, que motivou mesmo a condenação, por mais do que uma vez, do Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, a Mãos Livres afirma que dificilmente Kalupeteka terá um julgamento “justo”.

“Esse é o nosso receio, que não haja um julgamento justo, que as pessoas sejam condenadas sem que tenham direito a uma defesa condigna, porque publicamente já estão condenados”, conclui David Mendes.

Fonte: http://dnoticias.pt/actualidade/mundo/520875-advogado-denuncia-atos-de-tortura-a-lider-de-seita-religiosa-angolana-que-e

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