Irmão Kalupeteka e dez de seus seguidores leigos acusados de homicídio

Os arguidos mantêm-se em prisão preventiva, no Huambo, com o MP a classificar como “inadmissível” a liberdade provisória nesta fase do processo.

Accampamento_Sume_Huambo_AR2-41-620x413

O Ministério Público (MP) acusou dez elementos da seita ilegal “A luz do mundo”, inclusive o seu líder, da prática de crimes de homicídio, no caso que em Abril terminou em confrontos mortais com a polícia, no Huambo.

Em causa está a acusação deduzida contra os homens com idades entre os 18 e os 54 anos, a que Lusa teve ontem acesso, na qual José Julino Kalupeteka é o principal visado. Está indiciado pela co-autoria material (juntamente com os restantes arguidos) de um crime de homicídio qualificado consumado, um crime de homicídio qualificado frustrado e ainda crimes de desobediência, resistência e posse ilegal de arma de fogo.

Kalupeteka, nome pelo qual também é conhecida a seita, está detido preventivamente na sequência dos confrontos na Caála, província do Huambo, que levaram à morte, segundo a versão oficial, de nove polícias e 13 fiéis, a 16 de Abril.

A defesa do líder de “A luz do mundo” vai pedir a abertura de instrução do processo para “aclarar” dúvidas, informação confirmada ontem à Lusa pelo advogado David Mendes, da associação angolana Mãos Livres, que assumiu a defesa de Kalupeteka.

“Nesta fase o que nós vamos fazer é pedir a abertura da instrução contraditória, para aclarar algumas coisas. A acusação, conforme se apresenta, deixa-nos algumas dúvidas. Nomeadamente, se dizem que o senhor Kalupeteka estava algemado [agentes da polícia executavam um mandado de captura na altura dos confrontos], como é que ele terá cometido um homicídio qualificado. É um absurdo”, afirmou o advogado.

David Mendes confirmou igualmente à agência de notícias que foi notificado da acusação formal deduzida pelo MP do Huambo na quinta-feira, a qual está a ser ainda analisada pelos advogados de defesa.

Na origem do caso estão os confrontos entre os fiéis e a polícia, cujos agentes tentavam dar cumprimento a um mandado de captura de Kalupeteka, de 46 anos, e outros dirigentes daquela seita não reconhecida pelo Estado, e alguns dos seguidores que estavam concentrados num acampamento, no monte Sume.

No despacho de acusação, o MP do Huambo refere que as mortes dos agentes da polícia decorreram essencialmente de agressões com objectos contundentes, inclusive paus, punhais e catanas, às quais alguns polícias responderam com disparos.

“Enquanto decorriam as agressões, um grupo de senhoras, membros da seita, encorajavam os agressores entoando cânticos que exaltavam a chacina e outro grupo auxiliava os agressores na entrega de mocas, paus e outros objectos, enquanto os dois atiradores, a partir do cume do monte, efetuavam disparos contra o primeiro grupo dos agentes da polícia estacionados no campo de futebol”, lê-se no despacho de acusação.

Os arguidos mantêm-se em prisão preventiva, no Huambo, com o MP a classificar como “inadmissível” a liberdade provisória nesta fase do processo não estando ainda agendado o início do julgamento.

Entre outras conclusões, a acusação refere que a seita em causa, conhecida por advogar o fim do mundo em 2015 e não permitir a alfabetização ou vacinação dos fiéis, foi criada por José Kalupeteka em 2006, depois de este ter sido expulso da Igreja Adventista do Sétimo Dia.

Antes, ter-se-á instalado, em 2005, no monte Sume, no Huambo, numa zona “conhecida como uma antiga base militar da UNITA, onde começou com a sua actividade religiosa”, sublinha a acusação.

“Nos seus cultos dizia ser servo de Deus, alegava que conversava com Jesus Cristo face a face, que recebia orientações de Deus através de sonhos e dizia ainda que quem quisesse chegar ao céu tinha que ir ao monte Sume, insinuando também que nenhuma outra igreja era verdadeira”, lê-se ainda.

O MP diz que Kalupeteka terá travado o registo dos fiéis, “impedindo-os de participarem no ato eleitoral” de 2012 e que no recenseamento da população em Angola, realizado em 2014, “persuadiu os seus seguidores a não fazerem parte do mesmo, alegando que já estavam registados no céu”.

A acusação refere que o líder da seita, a partir de Setembro de 2014, “induziu” os seguidores a abandonarem as áreas de origem, vendendo todos os seus pertences e casas, “para se aglomerarem na montanha do Sume, vivendo ao ar livre, sem as condições mínimas de habitabilidade, resultando do seu acto o surgimento de várias enfermidades, tendo muitos dos seus seguidores ficado gravemente desnutridos, principalmente as mulheres e crianças”.

Associado a vários alegados conflitos com seguidores da seita noutros pontos do país, nomeadamente um caso que terminou na morte de um agente da polícia em Benguela já em 2015, foram feitos contactos entre as autoridades e Kalupeteka no sentido de desmobilizar os fiéis e terminar com as actividades da seita, mas sem sucesso, refere ainda a acusação.

Font: http://www.redeangola.info/kalupeteka-e-dez-de-seus-seguidores-acusados-de-homicidio/

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *